Por Hamilton G. P. Mendes
Uma das tradições mais antigas e românticas da cidade, as serestas realizadas na Praça Pedro de Toledo, podem voltar muito em breve a fazer parte do circuito cultural araraquarense. Quem confirmou a intenção do Executivo em retomar os eventos no local, que no passado já foi conhecido como Largo da Câmara – o antigo prédio que abriga o Museu Voluntários da Pátria já foi sede da Prefeitura e da Câmara Municipal – foi a vereadora Juliana Damus (PP), que há anos defende a volta das serestas para a praça.
“Estive com o prefeito Marcelo Barbieri (PMDB) e manifestei a importância de resgatar a tradição das serestas na Praça Pedro de Toledo, motivo pelo qual encaminhei uma indicação ao Executivo solicitando que os eventos voltem a acontecer no local. E, para minha agradável surpresa, o prefeito manifestou a mesma opinião”, declarou Juliana.
A vereadora lembra ainda do histórico da cidade, que no passado foi considerada a “capital das artes” no interior do País. “Araraquara foi, com sua Escola de Belas Artes e com o Conservatório Dramático e Musical, um dos marcos referenciais de formação de artistas no Brasil. Aqui, aconteciam importantes exposições, que reuniam artistas locais e nacionais. Hoje, o acervo do que restou da Escola de Belas Artes está reunido na Pinacoteca Municipal e ainda é alvo de estudo e referências para muitos pesquisadores das artes”, destacou.
Para ela, é importante não deixar que o tempo leve as manifestações populares tradicionais de Araraquara para o esquecimento. De acordo com o entendimento da vereadora, a cultura de Araraquara produz muitos eventos significativos, e uma das tradições que há mais tempo faz parte da vida do araraquarense é justamente a conhecida Seresta a Caminho do Sol, evento que ocorre sempre às vésperas do aniversário da cidade, em 22 de agosto.
“Tradicionalmente, o evento acontecia na Praça Pedro de Toledo, aconchegante área para acomodar festa de tamanho vulto. Era um espetáculo bonito de se ver: além dos seresteiros e boêmios, a adesão da população ao evento, trazendo de casa suas cadeiras para acompanhar o acontecimento. Outros paravam seus carros nas proximidades, com as crianças no banco de trás e ficavam ali, ouvindo e participando anonimamente do evento”, lembra.
Agora, afirmou Juliana, tudo pode voltar a ser como foi durante décadas em Araraquara, e a cidade ter de volta, na Praça Pedro de Toledo, o tradicional acontecimento. “Quando a seresta foi transferida para a Facira perdeu sua identidade, principalmente porque a Prefeitura trouxe alguns grupos musicais que nada tem a ver com serestas. O evento tinha tradição de trazer grandes nomes para a cidade, como Agnaldo Rayol, Carlos Galhardo, Agnaldo Timóteo, Altamiro Carrilho e grupos como Demônios da Garoa.”, afirmou.
A vereadora disse também que solicitou formalmente ao prefeito que valorize os músicos locais na realização dos eventos, abrindo espaço para que eles tenham a oportunidade de se apresentar ao público da cidade. “Araraquara conta com inúmeros artistas de qualidade, que se apresentam inclusive em eventos de grande importância cultural pelo Estado e por todo o Brasil. É preciso valorizar nossos artistas e abrir caminho para o surgimento de novos nomes”, concluiu.
Seresta
Seresta foi um nome surgido no século XX, no Rio de Janeiro, para rebatizar a mais antiga tradição de cantoria popular das cidades: a serenata. Tudo começou com grupos de músicos, que saindo das festas, detinham-se às janelas de suas pretendidas, para tocar e cantar madrugada a dentro, constituindo um costume boêmio que nós herdamos, como tantos outros, da Península Ibérica. Passando a denominar-se seresta, serenata ou sereno, essas primeiras manifestações, no Brasil, fizeram-se muito antes do lampião de gás.
De fato, a origem desse costume – de se evocar alguém (especialmente a pessoa amada) através dos versos – vem de tempos passados, de épocas remotas, muitos séculos atrás. Conforme o testemunho de cronistas medievais, na Pesínsula Ibérica (Portugal e Espanha), desde a Idade Média, os trovadores e menestréis já costumavam entoar as famosas Cantigas ou Cantares, que compõem um vasto repertório lírico, na maioria das vezes, cantando o amor.